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LÉXICO
ILHA:
Porção de terra
rodeada de mar
e solidão
por todos os lados;
ARQUIPÉLAGO:
Conjunto de ilhas,
rochas negras de espanto...
Um lugar de fados;
ILHÉU:
Aquele que chorou o mar
inventou a saudade
e se embrulhou na terra
por miséria.
Em MAS O SILÊNCIO FICA-ME NOS LÁBIOS, p. 41
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Para Helena
Para que servem os versos
senão para dizer de outro modo
o cheiro universal do medo surdo
quando à noite as facas vibram no escuro;
Para que servem os versos
senão para do mesmo modo
dizer do espanto renovado
que invade os lençóis doridos
quando Helena limpa o sangue do rosto
com a mesma solidão com que faz amor;
para que servem os versos
senão para gritar o nome de mulher
feito raiva e unhas partidas
de esgravatar a esperapartindo às avesas,
procurando recuperar o sonho sob os passos;
paa que servem os versos
senão para subverter a teia de todas as noites
e nelas rasgar a entrega nupcial?
Nome de mulher, nome d´água,
feita para abrir a madrugada
e nela semear laços e trigo;
nome de quem renova a vida
constelada de ambígua emoção;
servem estes versos para iluminar
os sonhos que se desfazem
como a colcha que refazes dorida.
Em NUM RISCO DE PÁSSAROS, pp 22 e 23
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Um pássaro para a Sofia
Um pássaro cativo chega à janela
com a alma escorrendo em cada gesto,
poisam estrelas nos seus dedos
e o sangue brilha em peito claro.
Povoada de imaginário,
a noite esvai-se num apelo:
tudo, menos o medo do escuro1
Num impulso de voo,
o pássaro bebe a madrugada.
Em NA METAMORFOSE DO TEMPO
Palavras de Tecedeira, p. 42